Desde 1986, com a reintrodução do vírus do tipo I da dengue no Rio de Janeiro, o serviço de controle de endemias tem recebido ofertas de milagres em doses cavalares. Para os agentes de endemias o que nos preocupa não são os milagres oferecidos, mas a insuficiência de uma visão crítica das condicionantes para que o milagre oferecido seja compatível com os problemas -ou enfermidades- que dele necessitam.
Ora, muitos produtos de controle das larvas do mosquito Aedes aegypti nos foram apresentados e tiveram eficácia comprovada em laboratório. Recentemente, mais precisamente na última quarta feira (15/6) nos foi apresentado um novo produto de origem alemã, comercialmente conhecido como NOVALURON e promete ser o último para o controle do vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti.
Queimados está recebendo, e em fase de implantação, um laboratório fabricante de produtos que prometem ser revolucionários em farmacológicos para várias doenças e controle de endemias. No Simpósio realizado hoje (17/6), nos apresentaram o Bacillus Thuringiensis Israelensis – BTI e o BioRat, ambos já conhecidos dos agentes de endemias para o controle da dengue e roedores, mas já não estão mais em uso. Depois do BTI trabalhamos com o DIFLUBENZURON e estamos migrando para o NOVALURON. A questão central deste simpósio foi a implantação da RioLab, um laboratório que vai produzir vários produtos de origem natural, entre eles o BioRat, o BTI, o xarope ASMACAN, o antibiótico PROPDINA, o complemento alimentar FERRICAL etc. Isso é bom? Penso que sim. Não apenas pela questão econômica, mas porque traz no conjunto de ações uma equipe técnica (esperamos que sejam pesquisadores) e isso pressupõe estudos e acompanhamento amiúde dos efeitos e dos resultados.
Tenho 25 anos numa luta sistemática contra o Aedes aegypti e ainda hoje continuamos a proteger nossos pontos fracos porque não identificamos, ou não nos comprometemos com nossos pontos fortes. Estes a serem considerados estão nos processos que escapam as ações diretas contra o vetor, mas converge para o contexto que compreende educação, saneamento básico, atendimento de água tratada em todas as casas e permanente pesquisa. Não nego a eficácia do BTI, nem do DIFLUBENZURON, assim como não posso negar a eficácia do NOVALURON, mas nego veementemente a eficácia de todo o processo contra o mosquito porque não integrado aos vários serviços públicos municipal como coleta de lixo, saneamento, abastecimento de água.
Numa pesquisa que realizo no setor tenho um depoimento que é sintomático. Diz o pesquisado que nos dias atuais não está desanimado, porque desânimo pode ser passageiro, mas desmotivado. Pelos resultados preliminares posso adiantar que a falta de comprometimento dos gestores públicos é contaminante e tem se espalhado por todos os agentes envolvidos. Com servidores da antiga SUCAM (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública) e da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) tenho colhido informações surpreendentes e que revelam que o descaso corrompe e desvirtua o processo. As gerências técnicas e chefes de equipes perderam o poder de liderança e lhes subtraíram a autoridade necessária para o empreendimento de suas ações.
A continuar dessa maneira a indústria manufatureira de agentes químicos e biológicos ganharão muito dinheiro às custas do erário público e teremos que conviver muitas dezenas de outros anos com a dengue até que se consiga uma vacina eficaz contra as quatro cepas de vírus, e o que é pior, com mortes por dengue hemorrágica. Só neste ano já foram contabilizadas 8 em Nova Iguaçu, 9 em Duque de Caxias, 5 em São João de Meriti, 2 em Belford Roxo, 2 em Mesquita, 1 em Japeri, só pra citar os casos mais próximos.
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