Penso que muitos brasileiros que se dizem enojados por corrupção tem um “tiquinho” de corrupto em si. Seja no trânsito quando comete uma infração e pede desculpas ao policial e este deixa passar batido; ou quando vai declarar o IR e usa de vários artifícios para burlar o fisco; quando tenta um jeitinho especial para resolver o SEU problema e o dos outros “que se dane!“. Dias desses vi no trem entre Engenheiro Pedreira e Austin, percurso que faço diariamente para ir de casa ao trabalho, do trabalho para casa, uma senhora evangélica comprando 1.200 músicas em mp3 de um camelô por R$ 3. Empresas, igrejas, residências… Todos querem de alguma forma baratear o que tem a pagar de energia elétrica e, sempre que podem, fazem um gatinho para alcançar seu objetivo. Se o sujeito olhar para dentro de si, ele verá que em algum momento ao longo das idades comete/teu um ato imoral.
Quando se vê uma senhora comprando um cd pirata com 1.200 músicas por R$ 3 refletimos sobre qual ética ela assim o faz. Pela ótica dos menos favorecidos, ou assim se faz ou fica excluído do processo. Passei pela Academia de Pedagogia e notei que 100% dos acadêmicos evitam comprar livros e, quando conseguem, tiram fotocópias de todo o conteúdo mesmo sabendo que os autores, neste caso, foram prejudicados, mas mesmo que o sujeito tenha um comportamento assim em algum momento de sua vida, quando ele percebe que toda uma sociedade está sendo lesada por pessoas que adquiriram conhecimento suficiente, e que assim o fazem utilizando a ferramenta fundamental de defesa dela que é o governo que ela própria elegeu, sente um asco a revirar-lhe os intestinos.
Tive uma reação assim quando assisti “Tropa de Elite II: agora o inimigo é outro” de J. Padilha, quando o capitão Nascimento se vê impotente porque quem deveria combater os crimes eram os que protegiam os criminosos e comunidades inteiras se tornaram reféns dos bandidos. Minha filha dizia o tempo todo “tenho nojo do sistema!”
Enquanto lia desesperadamente para chegar ao próximo parágrafo o livro do jornalista Amaury Ribeiro Júnior “A Privataria Tucana” sentia meu estômago revoltar-se com o que estava sendo degustado. A entranha exposta na literatura é de deixar boquiaberto brasileiros e brasileiras de todas as tendências tamanha a engenharia montada pela turma que a velha mídia está tentando levar de volta ao poder. Ao mesmo tempo que me indignava ficava imaginando um judiciário que fosse capaz de reaver, se não todo, pelo menos parte de toda a fortuna que esses ratos surrupiaram da nação. Até das terras, dos imóveis, engenhosamente usurpada pela trupe de José Serra: como assim não é possível retomar tudo? Uma auditoria seria capaz de dizer tudo o que foi edificado com o produto da corrupção e repatria-lo para o erário público.
Fiquei pensando também no Congresso Nacional: não seria a hora de pensar numa legislação que vetasse a prática dessa engenharia de emissão e internação de moeda sem passar pelo BC, pelo fisco? O governo tem maioria na casa. Por que não se discute uma proposta para evitar tais arremedos à margem da lei?
E a velha mídia? As Organizações Globo, Estadão, Folha, Veja e afins? Por que não aprofundaram nas investigações sobre a roubalheira que os tucanos do PSDB faziam no Brasil? Posso concluir que foram, de alguma forma, beneficiados com toda a dilaceração do patrimônio público? Não fossem, e tivessem mesmo o interesse por um jornalismo ético, estariam hoje protegendo esta gente e seus partidos e não se calariam sobre o polêmico livro? Concluo que ainda surgirá informações que respingará nessas famílias que dominam o jornalismo no Brasil.
Também fiquei indignado com o que soube da dupla Palloci e Falcão. São filiados ao partido que ajudo a construir desde 1985. Sei que existem forças que se atracam dentro do partido para garantir o controle da legenda, ou da campanha, como foi o caso narrado por Amaury, mas daí a fazer o papel sujo, traidor, de contar com o apoio do inimigo para combater os adversários internos foi um baque rotundo na minha velha militância. Foram eles que deram toda munição que a velha mídia hoje usa contra Pimentel e contra o PT e serão estes que destruirão todo o patrimônio ético, político e cultural que o PT vem construindo desde 1979.
O livro tem uma literatura muito agradável. Como já disse, a gente vai lendo um doido pra chegar logo ao parágrafo seguinte. Os documentos são provas cabais e públicas podendo ser acessadas por quem quer que seja a partir de um desktop doméstico. O preço também está apropriado para os dias contemporâneos e pode chegar a todos que desejam fazer uma boa leitura. O passo seguinte é esperar que as instituições de defesa da sociedade comecem a se mover para dar uma resposta a esse povo que vem sofrendo todas essas barbaridades sem ter como agir.
Forte, mas necessário. Padilha agora tem material para fazer o melhor filme de sua vida!
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